.

Perdida nos meus pensamentos, vagueio por aí e apenas o corpo fica aqui, os olhos percorrem páginas infinitas de uma qualquer matéria desinteressante e hedionda, mas a alma – esse elemento superior – é incapaz de aguentar a tortura de tal acção.
A alma liberta-se e, esguia, percorre os caminhos que a levarão ao paraíso. Esse lugar que todos os dias me chama e minimiza os danos provocados pelos instantes dolorosos. Refugio-me no meu jardim secreto e ganho forças, revitalizo a mente e fico mais perto do meu mundo. O mundo com que sonho, aquele que me transporta para um lugar melhor que este – sem tão pouco dar um único passo.
O relógio não pára. O pensamento também não. Corre, voa, foge. Daqui! Haverá maior tortura que estar onde não se deseja, fazendo o que não se quer?
O corpo fica aqui, obrigado pela consciência; mas a mente, essa ninguém nem nada a pode parar – pelo menos não em vida.
Luto: combate, traje fúnebre, esforço, período temporal após a morte de alguém, primeira pessoa do presente do verbo lutar... O que sou pode ir morrendo aos poucos – pelo mal, pela frustação, pela luta ou por não lutar, pela impotência – mas a morte não é mais que um (re)nascer, um novo nascimento, uma nova vida. Uma vida além da vida. Uma vida além da morte. Em vida não se pode morrer, pode-se mudar, apagar, transformar, renascer, mas nunca morrer.
Há razões que a própria razão desconhece e uma delas será certamente não saber qual a razão para não haver algo mais forte que a vontade.
Vagueio. Por aí. Sem parar. Ninguém o pode impedir. Não enquanto o coração bater.


(Nem Cibercultura. Aliás Cibercultura é a última coisa deste mundo que me faz parar.)