Hepatite C mata mais que sida...

Anualmente, morrem em Portugal cerca de 2200 pessoas com cirrose, das quais 30% devido a hepatite C; o cancro do fígado vitimou em 2002 quase trezentos portugueses, mais de metade dos quais devido à hepatite C. No total, serão 800 os mortos anuais causados pelo vírus HCV.
"Já houve tempo para se saber que isto é um problema gravíssimo de saúde pública, que mata mais gente que o HIV/sida", indigna-se o gastroenterologista Rui Marinho, do Hospital de Santa Maria, que defende a urgência de um plano para combater a hepatite C.
Não é preciso fazer comparações com a epidemia da sida para demonstrar a irracionalidade das autoridades de saúde em relação a esta matéria. "Há cerca de 40 planos contra doenças, que não afectam de perto nem de longe tanta gente. Veja o caso da doença das vacas loucas, que desencadeou uma série de medidas que expressão tem, face à hepatite C?"
Para Tato Marinho, a situação é tanto mais grave quanto a maioria dos infectados por hepatite C não suspeitam do facto de o estarem. Porque a doença é praticamente assintomática, mas sobretudo porque os poucos sintomas que tem não são identificados pelos médicos como sinais de perigo.
"Há muita falta de informação na própria classe médica em relação à existência desta infecção", reconhece Tato Marinho, que classifica a falha de "muito grave".
"As autoridades sanitárias têm ignorado a doença de tal modo que não existe qualquer levantamento do número de mortes associadas ao HCV, nem um aproveitamento de recursos já existentes que permitiriam fazer um diagnóstico mais aproximado da situação - é o caso dos CADS (centros de aconselhamento e detecção do HIV), que de norte a sul do país permitem análises gratuitas e anónimas do HIV. Poderiam fazê-lo para o HCV , que é aliás o que se passa nos países como o Brasil ou a França.
Neste Estado europeu, onde morrem 5000 pessoas por ano devido à hepatite C, a infecção tem o estatuto de doença crónica. O que, garante Michel Bonjour, presidente da SOS Hepatites França, significa que "a partir do momento em que a presença do vírus é confirmada, tudo é comparticipado por inteiro".

As vias de transmissão são as mesmas do HIV/sida. O HCV transmite-se através do sangue. A vacinação "em linha" e outras práticas médicas da era "pré-sida", como o uso de seringas de vidro, não descartáveis, terão sido causa de grande número de infecções. A transmissão por via sexual é considerada baixa, entre 4 a 10% dos casos.