Apetece-me...

Voltar à infância e correr descalça por campos verdes,
Apanhar flores e chorar por me picar nas urtigas,
Deitar-me na terra a apanhar sol e adivinhar o que há para lá do azul do céu,
Embirrar com o meu mano, logo depois fugir e ir-me agarrar à saia da minha mãe.

Enterrar os pés na terra fresca e macia,
Fazer buracos com as mãos e contente contemplar as unhas sujas,
Meter as pernas no tanque e chapinhar.

Saltar à corda e ao elástico dentro de casa.
Pedir ao meu pai um baloiço e conseguir que seja ele mesmo a fazê-lo.

Querer que a minha mãe me penteie o cabelo e me faça tranças,
Chorar sempre que me separo dela, como se fosse a primeira vez.

Pegar numa galinha ao colo e pô-la na água para se refrescar, passando antes com ela pela cozinha para desespero da minha mãe.
Falar com elas (as galinhas) como se fossem gente,
E dar-lhes comida à boca, sentindo com prazer as bicadas nas minhas mãos.

Colher um tomate, lavá-lo e trincá-lo como se fosse uma maçã.
Apanhar figos, pêssegos e uvas,
Saltitar, utilizar um banco ou subir acima do tanque para o fazer.

Enterrar os dedos no pêlo dos coelhos e das cabras,
Correr atrás das pombas e temer os cães e as serpentes.

Recolher flores, sentir o orvalho frio,
Apanhar castanhas e nozes, morangos e amoras,
Esfolhar espigas e descascar feijões, ervilhas e favas.

Apetece-me voltar a gostar de tudo isto.
Apetece-me VOLTAR A VIVER tudo isto.
Apetece-me voltar a ter todos os sonhos que deixei para trás.

Apetece-me estalar os dedos e... (tu sabes)