Perco-me novamente neste rio de lágrimas que me leva à morte.
Dói-me tudo!
O meu coração parou de bater logo após as lágrimas lavarem a minha face e afogarem a minha alma dorida do sofrimento.
O sol queima-me a pele, mas o gelo do meu coração alastra e está a chegar ao meu cérebro.
Estou a morrer... As minhas veias vertem cubos de gelo vermelhos. O meu sangue congelou. O meu cérebro e coração também!
Finalmente acabou, tudo acabou. Sinto-me leve e livre.
Corro debaixo de um lençol branco e salto de nuvem em nuvem. Atiro-me e um anjo recebe-me nos seus braços. Beija-me a testa e embala-me, fazendo-me adormecer. Sonho que o mundo é um cubo de gelo gigante, onde toda a gente continua a viver, menos eu!
Que fiz eu?! Porquê apenas eu me tornei gelo?
Respondam-me! Rogo-vos!
Algo me agita o ser. Acordo.
Era um cachorrinho lambendo-me o rosto.
Sinto-me aquecer lentamente. Abraço-me a ele e tento aquecer-me no seu vasto pêlo.
É belo como o sol, escuro como a noite, manso como o silêncio e doce como a lua.
Dói-me o peito, o meu coração continua em gelo. Sinto que jamais voltará a bater.
...
Acordo do sono e vejo o anjo a meu lado. Estou coberta com um manto púrpura de seda.
Estás a morrer. – sussurra ele.
Olho em minha volta e tento-me levantar.
Já percebi!
Afinal o manto não é púrpura! Estou a ficar submersa no meu sangue. Já não sou eu! Já nada importa. Perdi tudo e perdi-me.
O meu sangue mancha as nuvens que me impedem de cair no abismo. Em breve, todo o mundo terá chuva encarnada.
Todas as forças me começam a deixar...
Morri por vós e, no entanto, amo-vos para eternidade.
Adeus...